Hi all,
There are some fragments of a interview given by Eduardo Viveiros de Castro
to Folha de São Paulo newspaper on Ameridian Perspectivism or Canibal
Philosophy.
I think it could be of some interest to the current discussion on
Method/Methodology.
I did a rough and fast translation of some parts of it to English.
Those ones who have interest in hole interview in Portuguese please let me
know.
THE CANIBAL PHILOSOPHY BY EDUARDO VIVEIROS DE CASTRO
EDUARDO VIVEIROS DE CASTRO: A FILOSOFIA CANIBAL
Originally published in Folha de São Paulo Newspaper
(Folha de SP, Mais!, 21/8)
O perspectivismo ameríndio coloca em questão sujeito e substância,
fundamentos da ortodoxia filosófica na tradição ocidental
[The ameridian perspectivism rises into question subject and substance,
fundamentals of ocidental phylosofic tradition]
Segundo Eduardo Viveiros de Castro, o modo de pensar a realidade dos índios
privilegia a relação, anterior a sujeitos e coisas, que não existem a
priori.
[According to Eduardo Viveiros de Castro, the Indians way of thinking
on/about reality gives a special room to relation, first to subjects and
things, that are not conceived “a priori”]
De fato, no parentesco, essas "coisas" chamadas cunhado, genro, sogro nunca
são em si mesmas, não existem a priori, mas só ganham existência na relação
– filho, pai, sobrinho são posições em relações que preexistem aos sujeitos.
[In fact, in social parental relations, these “things” named by us as
relatives do not have a life by itselves, they are not conceived “a priori”,
but only get rise in relations – daughter, father, uncle and so on are
positions people take when they come into relations one another.]
Domesticada no Ocidente, a relação extrapola os limites do parentesco no
pensamento indígena, e distribui as cartas da realidade.
[These social relations, that were put under rigid home control by Ocidental
culture, go beyond parental limits in American Indians thinking, and “give
the playing cards” to reality]
A seguir, trechos da primeira parte da entrevista:
[Below some fragments of the fist part of the interview with him]
Folha – É correto dizer que, no perspectivismo, sujeitos e coisas não
existem por si mesmos, mas sempre a partir da relação em que estão
inseridos?
[Is it right to say that, into perspectivism, subjects and things do not
have life by themselves, but always from relations into what they are?]
Eduardo Viveiros de Castro –
Sem dúvida. A idéia básica que está por trás da caracterização do pensamento
ameríndio por meio dessa palavra, perspectivismo, que foi raptada do
vocabulário filosófico ocidental, é que a relação vem antes da substância e,
portanto, os sujeitos e os objetos são antes de mais nada efeitos das
relações em que estão localizados e assim se definem, redefinem, se produzem
e se destroem na medida em que as relações que os constituem mudam.
[Without no doubt, yes. The basic idea that are hiden this word in a first
ameridian thinking caractherization, the perspectivism, was stolen from
occidental philosophy repertory. It means that some relation comes before
substance and, thus, subjects and objects are products of it and of the
places they take on it. That’s how they are defined and produced and
destroyed as relation that make them, change.]
Não que não haja substância, pelo contrário, mas aqui ela é o problema, e as
relações, ao contrário, são aquilo que é dado. Enquanto que nós, de certa
maneira, na tradição conceitual ocidental, tenderíamos a imaginar as
substâncias como dadas, e as relações como sendo construídas e adicionadas
pelo sujeito, em sua função cognoscente. É como se conhecer, para nós, fosse
relacionar, e as substâncias, ao contrário, fossem aquilo que já existe, que
está dado e que cabe ao espírito pôr em relação. O problema ameríndio é
justamente partir dessa relação universal e dela produzir conceitualmente as
coisas.
[I’m not saying that there is no substance, on the contrary, but to
ameridian thinking that is a stone in the shoe. Relations, into
perspectivism, is what is given to mind fist. We, in a particular way,
driven by occidental conceptual tradition, have the tendence to imagine
substances as given to mind first, and relations built by subjects from a
cognitive action. To us, know something would be put it in relation. On the
contrary, the substances, to us, are those things that are the starting
point of our thinking, things that are given to mind first and that our
human spirit put into relation. The ameridian point of view starts from
universal dimension of relations and is only over them that it builds the
conceptions of things]
Folha – Essa relação tem sempre a mesma forma? É primordialmente humana?
[Have relation ever the same shape? Is it initially human?]
Viveiros de Castro –
Não sei se eu formularia nesses termos. Eu diria que a humanidade é o nome
de uma relação, que é a relação reflexiva, em que todo ente vai se perceber
a si mesmo como humano. A humanidade é menos o nome de uma substância e
muito mais um tipo de relação que todo ente tem consigo mesmo. Isso é, numa
linguagem empolada, algo que os índios formulam de maneira muito mais direta
quando nos falam, em português, que "todo bicho é gente". Significa que toda
espécie vê a si mesma como humana. Significa que o que é humano é o "se
ver", muito mais do que aquilo que se está vendo.
[I don’t know if I would put it in these words. I would say that Humanity is
the name of a relation, the reflective relation, in which every being will
perceive her/him as human. Humanity is less the name of a substance and much
more a kind of relation that every being has with her/himself. That is, in a
high language, something that the Indians say in a very direct manner when
they say, in Portuguese, that “all animals are people”. It means that any
specie sees her/himself as human. It means that what is human is the way we
see ourselves rather what we see.]
É o pronome reflexivo que define a humanidade. Ao se ver, todo sujeito vê-se
como humano. Nesse sentido a humanidade também é uma relação. Essa é a
relação universal por excelência? Não sei dizer. Acho que é uma das
relações. Diria até que a relação primordial no mundo ameríndio é a de
incorporação, ou, para usar uma linguagem mais concreta, a relação de
predação e de incorporação canibal. O canibalismo como modo esquemático, o
esquema fundamental nesse mundo. Brinco, fazendo um trocadilho, que, se
nosso esquema fundamental de relação sujeito-objeto, na filosofia ocidental,
é a predicação -"A é B"-, no mundo ameríndio, é a predação -"A come B".
[It is the reflexive pronoun what defines humanity. As one sees her/himself
every subject sees her/himself as human. In this sense humanity is a kind of
relation. Is this a universal relation at all? I do not know. I think it is
one of possible relations. I would say that the original relation in
ameridian world is that of incorporation, or, to use a more concrete
language, the relation of predatoryness and cannibal incorporation. The
cannibalism as a schema, the fundamental schema in this particular world. I
play a joke and say that if the main schema in ocidental philosophy is the
subject-object relation, is the predicative action – A is B -, in the
Amerindian world is the predatoryness – A eats B.]
Folha –
E como isso funciona?
[And how this functions at all?]
Viveiros de Castro –
Toda linguagem conceitual tem um pano de fundo, um solo, de intuição
sensível. Está radicada em determinado tipo de experiência concreta do
mundo. O fundo experiencial básico da cultura indígena é a intuição da
cadeia alimentar e a experiência da necessidade que possui todo organismo, e
dramaticamente o animal, de ingerir, incorporar, de comer para viver. Essa
relação de incorporação é uma experiência primordial no pensamento indígena
e serve de modelo sensível pra uma quantidade de esquemas mais abstratos.
[Every conceptual language has a landscape, a ground of intuitive
sensibility. It has roots in a very particular kind of concrete experience
of world. Thebasic experiencial landscape of Indian culture is the intuition
of eat chain and the needs of every organism, and dramatically the animal
ones, of eating, of incorporation, to eat in order to live. This
incorporative relation is a prime experience in Indian thinking and is used
as a sensitive model to a large number of schemas much more abstracts]
Assim como se poderia dizer que um dos esquemas sensíveis da nossa tradição
cultural é o da produção, da imposição de uma forma. O modelo do ceramista,
do oleiro, do escultor. No mundo indígena há esquematismos básicos que são
de outra ordem. A questão ali é saber onde você está no circuito universal
da predação. É como se houvesse três posições lógicas fundamentais:
predador, presa e congênere -aquele que não é nem predador nem presa. Os que
comem comigo, aqueles que me comem e aqueles que eu como.
[To our cultural tradition a sensitive schena is that one of production, of
imposition of a shape. The sculptor model. In Indian world there are basic
shemas of an other order. So the question there is to know where you are in
this universal circuit of predatoryness. It is like to take only three
logical and fundamental positions: predator, prey and cogenre – that one who
is not predator nor prey. Those who eat with me, those who eat me and those
whose I eat.]
Ricardo Japiassu
Professor Adjunto
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